21.11.07

VAIDADE

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VAIDADE
VAIDADE
VAIDADE
NEM TUDO É VAIDADE
NO DUOMO
TEIAS TECEM
URDIDURA
TESSITURA
TRAMA
PENDIDAS
NO TEMPO DO TEMPLO
URDE E TECE URBES
ORBES SIDERAIS
DOS ANTIGOS DEUSES PAGÃOS
ENTERRADOS SOB ESTAS BRANCAS
ENEGRECIDAS PAREDES LÁPIDES SECULARES
A JORRAR SOBRE A PRAÇA SENTIDOS DO CONSPÍCUO
VERBO... VERBO... VERBO...
DORME CÓSMICO
ACORDA HOMEM
DESPERTO
DESERTO
PERTO
DESENHADO NA ABÓBODA COLOSSAL
O CHORO DE PERVERSOS E RESSENTIDOS
ORA CHORAM CERA
ORA EXUDA A VERGONHA DO MÁRMORE
A RESISTIR, A DURAR, A GUARDAR, A REVESTIR.
GRENÁS ESSAS MISSAS EM TRAÇAS BORDADEIRAS DO TEMPO
NAS VESTES DAS VELHAS BEATAS
A RUIR SUAS SANTAS TETAS
ONDE A HUMANIDADE SEU LEITE BEBEU
HOJE APENAS BEBEM OS ABUTRES DE ANÉIA, PELERINES E CRUZES DE OURO
AS SANTAS PRETAS AUSENTES NESTES ALTARES
NAVE DOS OLHOS DO MUNDO
MORRERAM DESDENTADAS
NO PÁTIO DE ALGUMA ALDEIA
VISITADA PELA ANGÚISTIA DESTES VERMES
RASTEJANTES UM DIA COM SEUS OLHOS DE PIEDADE
VOZES DE POMBAS MOFAS,
SUBINDO DAS PAREDES ÀS SUAS VEIAS DE LEITE
DAQUI RETIRARAM A VIDA
PLANTARAM O SEU PRÓPRIO PECADO
ONDE NASCE ESTE SEPULCRO CATEDRAL
SEUS NICHOS DE POEIRA DE OLHOS VITRAIS DAS ANTIGAS DEUSAS
EMASCULADOS SEUS LÍRIOS VESTEM-SE AGORA NÉSCIOS
NEM PUROS, NEM ALVOS
SÃO APENAS CÍRIOS MUTILADOS
VAZADOS PELOS CANAIS DE VENTO
DAS FERIDAS QUE SOPRAM DO ORIENTE
NA PIEDADE DIVINA
NOS OLHOS ÁRABES
DESTAS DEUSAS NEGRAS TRAVESTIDAS CRISTÃS
IMPUGNAM-NOS À LIBERDADE
À SACRA CULPA EM BOCAS MIÚDAS COCHICHOS A MALDIZER
ROUBA-NOS O SILÊNCIO
AS ANTIGAS CATACUMBAS
DESFAZ-SE A NOSSA ALMA EM PÓ
VONTAREMOS AO SACRO OFÍCIO DO MÁRMORE
PINTADOS MENINOS
PUROS LEVES E FAMINTOS
SORRINDO NO SEPULCRO DAS ROCHAS POMBAS
CIRCUNDADOS OS ROSÁRIOS NA NOSSA GARGANTA
ENGOLINDO CONTA A CONTA DESTAS PÉROLAS ACRES
QUE ESCORREM DOS DEDOS DAS NOSSAS MÃES SEM ROSAS,
FIOS DAS FIBRAS DO NOSSO PEITO
FILAS DE CICATRIZES CRUZES
TECELÃS DE NOSSO SUDÁRIO
INÚTIL TAPAR ESTAS VERGONHAS
O CORPO NÚ DESTE HOMEM
NO CONFESSIONÁRIO DE PUNHAL
E ESPADA NO MAPA DA DESOLAÇÃO
NA LINHAGEM NOBRE DA NOSSA HUMANA SOLIDÃO
BEATAS ZIGUEZAGUEANTES NA NAVE CENTRAL
CORRENTES PÓLVORA AZUL-CHUMBO
TITUBEAIAM NOS CORREDORES DANTESCOS ENTRE GRADES
ARRASTAM-NOS CONSIGO PENSAMENTO, ATO E PALAVRA
OMISSÕES OMISSÕES OMISSÕES
O PADRE OLHA A BUNDA DAQUELES LINDOS MENINOS
HABITUADO HOMEM DE CULPAS ETERNAS
ELE VÊ QUE É VISTO POR UM DEUS PAGÃO
DAS ÓRBITAS RETIRA SEUS OLHOS
METE-OS NA CAIXA AO COLO
SEUS DEDOS DESFIAM E VASCULHAM A OBCENA CAIXA BÍBLIA,
TACITURNO INSTANTE EM QUE SEUS MISTÉRIOS
VOMITADOS PELSO OLHOS ESTE DEUS ENCONTROU
NO CORPO DESTA BATINA UM HOMEM NÚ E INGÊNUO,
LAMBIDO PELOS OLHOS SACROS
NOS DEGRAUS DESTA CATEDRAL
NO CONFESSIONÁRIO DA SUA CONSCIÊNCIA
ENRUBESCEU E SAIU
NA NAVE SOAM SONOROS ESTERTORES SENSÍVEIS
RESSOA O CANTOCHÃO
AS LADAINHAS
MELISMAS DAS DORES EM DESERTOS VERMELHOR, AZUIS E AMARELOS
VITRÔS, VITRAIS, VIDRILHOS
MANTOS DE POMBAS SALPICAM A PULCRA SANTA
SEUS OLHOS CRAVADOS EM ALGUM MISTÉRIO
RUBROS E ENCARNADOS
PÉS DEDOS BOCAS ASAS
SANGRAM SEM PULSAR
BRANCO MÁRMORE NEGRO
SANTAS POEIRENTAS
DOURADOS GUMES NAS SUAS COROAS
RECLAMAM A SAÍDA
ESCADAS ABAIXO ELAS OLHAM
PIEDOSAS,
INVEJOSAS
DAMO-LHES AS COSTAS
ESPELHOS DE TODOS OS OLHOS
VOSSAS SENHORAS DE NEGRO
DESEJOS DE HISTÓRIAS QUE CHORAM
SANGRA SOB O MATO DESTAS SANTAS
O CORPO DE HOMEM NÚ
SUADOS DE PARAFINA
CRAVEJADOS DE PEDRAS
BRILHANTES DESEJOS FERVILHAM NO SEU ESTANDARTE E NAS SUAS COROAS
TOCA A BOCA DO ESPELHO A BENTA AGUA
ESCORRE UM VALE DE LÁGRIMAS DE VELAS
CERA DE TODAS AS VAIDADES
DAS VAIDADES ESTA REZA
DA PIEDADE
É IDÊNTICA À IMAGEM DESTA OPALINA CATEDRAL NA CIDADE
INÚTIL COFRE DE DORES, TILINTA O NOBRE QUE COBRE SEUS OLHOS E CHORA AOS PÉS DO MENINO QUE GRITA SOCORRO NA FOME
ESPELHA ESTA LUZ DA RAZÃO
DE HAVER PLANTADA NESTA VELHA CIDADE
O MUNDO QUE BRILHA AOS RESTOS DE TODOS OS OSSOS
DO GREGO GOZO - DO ROMANO IMPÉRIO - DA DEVASTAÇÃO DAS AMÉRICAS - DA EXPLORAÇÃO DAS ÍNDIAS DO ORIENTE ATÉ ESTE OCIDENTE SEM PLEXO SOLAR
ERGUE-SE ELA IMPONENTE,
VITORIOSA VERTIGEM DE TODAS AS PRAÇAS DO MUNDO
ONDO SOAM OS SINOS NOS FINAL DAS TARDES
NESTE SÉCULO E MEIO DE LÁGRIMAS ESPALHADAS PELOS TURÍBULOS
EM MÃOS QUE NUNCA ASSENTARAM UMA PEDRA
NEM TUDO É APENAS VAIDADE
HÁ O PERVERSO, HÁ O CRUEL
QUASE TUDO VELEIDADE
E MERAS SÃO ESTAS PALAVRAS
A ESCORRER NUM CÁLICE OUVIDO TORPE
VERTIDAS NO ÁTRIO DESTE DUCTO DA INCONSCIÊNCIA
EM MERA VERTIGEM DA LÍNGUA
NUM BANCO DENTRO DO DUOMO EM MILÃO
EVOHÉ! EVOHÉ! EVOHÉ! EVOHÉ! EVOHÉ! EVOHÉ! EVOHÉ!
Milão, outubro 2005
Ao bom homem de coração pomba,
ao amigo Césare de Vitta
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19.11.07

Escrevinhador de textos

*
Levante o sol um dia claro e Londrina amanhece em novembro, 2007




Eu temo pelo destino dos textos que ainda não escrevi.

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Verbo derrisivo



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AMAR


raiz de tantas experiências






AMARrar
AMARrotar
AMARgurar
AMARfanhar
AMARlotar
AMARotar
AMARelar
Derrisão desejável
a si ou a alguém?
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