6.8.09

FIT - Festival Internacional de Teatro - S.J. Rio Preto - julho 2009

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PAINEL CRÍTICO

FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO

São José do Rio Preto – 27/07/2009


"Vis Motrix" - Delicado, para todas as idades

Maria Beatriz de Medeiros
Leitora Crítica

Na entrada, solene, um senhor de voz grave e acolhedora, recebe gentilmente a platéia. A trilha sonora, dos 15 minutos já tradicionais de atraso de todo teatro, também demonstra cuidado. Isto deve ser natural, penso, para pessoas que trabalham com bonecos, pequenos seres animados, frágeis, mas que se revelarão ágeis. Certamente me inspiro, para este pensamento, no tanto carinho que oferece um pai ao seu filho de colo. A platéia está repleta de crianças. Mas, realmente, um espetáculo de bonecos, não necessariamente é para crianças. E este também não é só para crianças. Trata-se de técnica, de técnica apurada a partir da tradição de marionetes japonesas e de poesia.

O mesmo senhor (Mauro Rodrigues) apresenta um boneco, seu "colega", que depois chama de filho. O boneco é grande e manipulado por três pessoas. Explica: "Vis Motrix", vontade de movimento, ou enthusiasmós, conforme o completo site da Cia de teatro (www.imagoteatro.com.br). O espetáculo tem por subtítulo "um ensaio sobre a alma das marionetes"(...)

A manipulação é eficaz e cria de fato envolvimento com o boneco. Ele dança, salta, instala cadeirinhas, finge ser desajeitado, instala cadeirinhas, e uma mesa. A habilidade na movimentação do boneco faz crer que a mesa, pequena para o tamanho do boneco, é muito pesada. Ele se equilibra nas cadeiras que dispôs sobre a mesinha. A gravidade desaparece, estamos no mundo dos sonhos (...)

Entra naturalmente a bola de futebol. Mas estamos em um mundo mágico e facilmente ela se torna bola de vôlei, futevôlei, desobedece. Ahahah! É divertido um mundo sem gravidade e onde os objetos podem ter vida própria: uma cadeira desobediente, uma bola que não quer mais jogar (...)

Muito interessante e instigante é a linha, ou a corda, que entra em cena para que o boneco nela se equilibre, se desequilibre, se jogue como em uma cama elástica. Elemento visual puro, ela se solta e os desenhos descobertos são inusitados. Simples, grande, diferente.

Após o fim do espetáculo, o Grupo apresenta um sketch do próximo. Agora, as luzes são mais abertas, vê-se um pouco os manipuladores/atores. Mas isto não é incomodo. Ao contrário, os olhos ficam mais à vontade e a concentração na excelente movimentação do boneco, que quer ter alma, não nos deixa prestar atenção nos excelentes manipuladores.

Bonecos manipulados por três atores não é nada fácil (...). Indago-me se existe apoio para a pesquisa em estudo de movimentos via sensores e computadores. Informo-me e a resposta é 'não'. Tudo é feito sem tecnologia digital. Isto exige trabalho e a Imago Cia de Teatro a possui.

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3.8.09

Um conto curto e quase árido

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De tal modo atormentado, brigava até com o seu melhor amigo, mesmo este sendo o amigo imaginário.
Naufragou em sólida realidade que jamais se reconciliara.














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2.8.09

Sereno Jeito!

Eu gosto, sobremaneira, de alguns sonetos.


Torpe, lembro-me, vago, alguns.


Cenas nasceram aí, fizeram-se épocas de muito refletir, das quais guardo mais que lembranças.


Posto que ali eu vejo os dias que morrem em crepúsculos fantásticos, afrontando-se o firmamento em algum alento de fim, e eu volto amanhã, este tempo é tempo de despertar sempre ao leito, com cara de amarfanhado, surpreso em alento para os perceptos.


Disto de todos o verbos, de todos os alheios afetos.




Nem dias ou mares de horas lavam prantos e ridos além de ausências do seu caráter;
roubou-me um instante a consciência,
fez latente, nem formosa, nem trágica,
alguma porta do meu peito.




Seus esforços mortos







"Meu coração tem um sereno jeito,
E as minhas mãos, o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.
Se trago as mãos distantes do meu peito,
É que há distância entre a intenção e o gesto;
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.
Quando me encontro no calor da luta,
Ostento a aguda empunhadura à proa,
Mas meu peito se desabotoa;
E se a sentença se anuncia bruta,
Mais que depressa a mão, cega, executa,
Pois que senão o coração perdoa..."
(de "Calabar, o elogio da traição", de Chico Buarque")