2.8.09

Sereno Jeito!

Eu gosto, sobremaneira, de alguns sonetos.


Torpe, lembro-me, vago, alguns.


Cenas nasceram aí, fizeram-se épocas de muito refletir, das quais guardo mais que lembranças.


Posto que ali eu vejo os dias que morrem em crepúsculos fantásticos, afrontando-se o firmamento em algum alento de fim, e eu volto amanhã, este tempo é tempo de despertar sempre ao leito, com cara de amarfanhado, surpreso em alento para os perceptos.


Disto de todos o verbos, de todos os alheios afetos.




Nem dias ou mares de horas lavam prantos e ridos além de ausências do seu caráter;
roubou-me um instante a consciência,
fez latente, nem formosa, nem trágica,
alguma porta do meu peito.




Seus esforços mortos







"Meu coração tem um sereno jeito,
E as minhas mãos, o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.
Se trago as mãos distantes do meu peito,
É que há distância entre a intenção e o gesto;
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.
Quando me encontro no calor da luta,
Ostento a aguda empunhadura à proa,
Mas meu peito se desabotoa;
E se a sentença se anuncia bruta,
Mais que depressa a mão, cega, executa,
Pois que senão o coração perdoa..."
(de "Calabar, o elogio da traição", de Chico Buarque")

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