31.10.12

pele

Um verbo, por favor.

Um verbo para a expressão dos sentidos da pele.

Um verbo específico, que sentir apenas parece indistinto.

A pele inventa outros em mim.

29.10.12

Chama


via

Sobre o muro os canteiros não são vasos, são a vila, a cidade, são o mundo.

continente

O insondável não cabe em palavras ou emoções. Sem ausência ou falta, não choro, rio ou sofro. Transbordo.

Caligrafia

Ela rebordou os monogramas do nome dela nos lenços, fronhas e lençóis. Ela sempre seria a outra. Ele sempre era o mesmo.

Passamanaria

E repregava fitas das velhas anáguas, nos saiotes ela buscava vestígios da cintura elástica. Despregaram-se os liames das vestes íntimas com os anos em que a sua existência se afrouxava entre os lençóis amarfanhados e rotos de um leito vazio. A lassidão despregava da face de atriz, nas roupas cor de carne antiga que o espelho de prata carcomida contou à moral que jamais morou num quarto fumarento de pensão.

Azul noturno


Azul. A cidade está azul. Enfeitada, enluarou-se para embriagar-se com os perfume noturnos das floradas de árvores inebriadas. Os próprios perfumes, as ruas vazias movem-se na noite a passos lentos.
As cácias vulgares, pouco sopradas pelo vento que delas se afasta. Almiscarados açúcares, o perfume do doce perfume, vertigem da satisfação em alcovas de putas antigas. Elas rondam a rua da Lapa. À subida da Paes Leme, o fôlego traga lufadas das doses inebriantes de saudades, desespero do olfato dominado pelos segredos da vida noturna das árvores.
A vida é insuportavelmente ruidosa na noite desta cidade vazia e embriagada de si.