18.12.06

Vanity!

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Vezes sem fim, calar não é fácil. Dizer nada muda, já o sei. Toda poeira de verbos recobre precipícios, veredas ou mesmo veleidades. Não há modo diverso deste, mais detestável, feito canhestro de tantas palavras, mesmo em mim, almeja silêncios.

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05/ de dezembro, temp(l)o de silêncios:
Cálice de letra por vir.
Palavra tanta, toda e outra a mais.
Estado sutil, sensação num quase verbo.
Na forma falha tamanha,
Brecha sem fim
Que foi assim que daqui sumi.

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(às flôres intermitentes de maio)
curva (inter)rompida
devolve móveis
esquece baús
troca chaves
fecha portas
guarda lacres
bebe vergonhas
enfrenta quedas

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( seria já um junho ido, findo)
Na infância havia a chuva, bijú de lata, catraca e matraca a romper silêncios nas tardes e noites sem fim.
Na infância havia, mesmo com dor de dente, doce de coração, suspiros amarelos, rosas e azuis brocados com gotas de prata e luar a não perder mais.
Na infância havia, mesmo à noite, pé na lata, mãe da rua e esconde-esconde nos terrenos baldios dos troca-trocas e segredos e risos em noites descobertas.
Na infância, mesmo que fizesse frio, havia toalha com água umedecida para banho morno com alfazema.
Na infância havia inverno, goteiras nas latas, franjas da casa com orquestra de tatibitati de tantos chuviscos.
Na infância havia cigarra, apesar de todo adulto, nas árvores de todo verão
Na infância havia o que mais haveria.

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