7.6.10

Teatro d'Vertigem revisita (velhas) utopias

Mauismo, intervenção cênica


Reunidos os espectadores na sala de alto pé direito e pouco iluminada. Um grande círculo de cadeiras. Crachás, números, cartões de ir e vir, prêmios, presentes, instruções, roteiro, endereços e guias para os grupos de senhas. Começa a operar o lado de dentro da encenação, o espaço cênico sem divisão palco/platéia, sem convite prévio. A festa da (velha) representação teve seu começo.
Três pessoas ou atores-guias nos conduzem pelos endereços indicados nos cartões numerados. Teatro passeio, teatro boulevard. Engano! Erro!
Sem se mostrar personagens, os guias indicam também atitudes e corportamentos; voltaremos às 21horas e 30minutos...; ajam com respeito e com atenção... As cenas são fragmentadas, divididas entre ir e vir...
Os espectadores voyeurs, a espiar a intimidade dos lugares: olho pela janela de uma casa, a pensão, o cortiço, a moradia, o abrigo... Fragmentos da vida íntima de moradores do local. Entre os diferentes espaços ocorre a 'interivenção', e mais o texto entrecortado que anuncia: Revolução! Passa um carro de som na rua, ressoa música. É a internacional socialista?
A mão pesada de Fernando Bonassi marca as falas, a dramaturgia, de certa ironia como estratégia discursiva. Se escutei revolução, também escutei provocação.

As cenas são locadas nas inusitadas realidades íntimas de moradias, bares e lugarejos da Rua 13 de Maio, no bairro Bela Vista (Bexiga) em São Paulo. Ali instalam-se as cores esmaecidas de uma revolução imaginária e utópica, plantada em algum lugar da nossa história real. Na oficina instalada numa garagem, num porão, reencontro o mesmo mimeógrafo com stencil e tinta à álcool que nos idos de 70 fizeram os libelos de futuros libertos, tal como adolescente eu me imaginava seria um dia.

Na casa de fulana, na cabeceira da cama, quatro travesseiros amarfanhados pelo uso.

Mescla instigante e provocativa, reinventa-se o lugar teatral, substituído pela ilusão de que haja vida real sem mediação. Há representação, pois nada foge à máquina revolucionária do teatro que nos habita.

O Teatro da Vertigem acerta na ousadia com o Mauismo a insistir sobre a memória, a lembrar-nos da indiferença, da facilidade de circularmos confortavelmente entre os muros das nossas pequenas e feias e sujas cidade subjetivas.

Bravo!

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