Ontem aconteceu o espetáculo da abertura oficial do festival. Portentoso, maravilhoso, exuberante! Luzes e projeções de imagens dos bonecos que aqui passaram. Cenas estrangeiras, raras, estranhas ao cotidiano desta pequena vila. 50 anos é o tempo que se leva para apagar da memória o fato de que aqui se deu a entrada do exército hitlerista?
Na fotografia projetada em dimensões estupendas, o sorriso sem dentes do menino de cabelo de milho, o nariz vermelho de uma marionete bêbada, a gargalhada ingênua vincando em gretas a face de três senhores que fazem lembrar dos sulcos da terra arada, ou os olhos atrás da máscara de mistério e o canto e música que não param, no grande coral de citadinos e de uma máquina de mecânica grandiosa, instalada num quiosque iluminado. O festival fez-se porta de saída para o espírito da Grande Guerra. A alegria sutil da arte constrange a tristeza a ir embora.
As imagens são projetadas sobre as paredes do edifício central, propriamente no palácio ducal, torre do relógio. Seleção de fotos e filmes. . . Coleção dos cartazes de todas as edições, coloridíssimos desde sempre, contraposição cuidadosa que tinge de luzes a monocromia da vida nesta pequena cidade.
Espectadores em sorrisos de adultos e de um sem número de crianças. Artistas e espectadores com os olhos de espanto e admiração. Alegria serena com os trapezistas, equilibristas e escaladores suspensos entre os edifícios da grande Praça Ducal.
Imagino que ali havia por volta de 20mil pessoas, ou mais, sem qualquer empurrão ou pisar os de alguém. Não parece necessário o exagero do histrionismo, nem o ensurdecedor estribilho da bateria, nem a queima de fogos de artifício. Instalou-se aqui silenciosa a magia espetacular e alquímica do teatro de marionetes.
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