19.11.07
Verbo derrisivo
20.10.07
Bicho de sete cabeças

Não dá pé, não tem pé nem cabeça
Não tem ninguém que mereça, não tem coração que
esqueça
Não tem jeito mesmo
Não tem dó no peito, não tem nem talvez
Ter feito o que você me fez, desapareça
Cresça e desapareça
Não tem dó no peito, não tem jeito
Não tem coração que esqueça, não tem ninguém que
mereça
Não tem pé, não tem cabeça
Não dá pé, não é direito
Não foi nada, eu não fiz nada disso e você fez um
Bicho de sete cabeças
Geraldo Azevedo
12.10.07
V i S M O t r i X
força motora
D i r E ç ã o
Mauro Rodrigues
A t o r e s - A n i m A d o r e s
Bruna Villa, Carol Knoll, Daiane Baumgartner, Daniela Pagnoncelli, Fabíola Gonçales, Robson Barbosa, Roger Valença.

E S T R É I A
(para adultos)
16 DE OUTUBRO
TERÇA-FEIRA
LOCAL
TEATRO SESC LONDRINA
Jornada SESC de Artes Cênicas
endereço: Rua Fernando de Noronha, 264 - Centro
E-mail: londrina@sescpr.com.br
Fone: (43) 3378-7800
nôh-turno
25.9.07
23.8.07
"A fúria da beleza" Elisa Lucinda
a beleza dessa maria-sem-vergonha rosa
soca meu peito esta manhã!
Estupendamente funda,
a beleza, quando é linda demais,
dá uma imagem feita só de sensações,
de modo que, apesar de não se ter consciência desse todo,
naquele instante não nos falta nada.
É um pá. Um tapa. Um gole.
Um bote nos paralisa, organiza,
dispersa, conecta e completa!
Estonteantemente linda
a beleza doeu profundo no peito essa manhã.
Doeu tanto que eu dei de chorar,
por causa e uma flor comum e misteriosa do caminho.
Uma delicada flor ordinária,
brotada da trivialidade do mato,
nascida do varejo da natureza,
me deu espanto!
Me tirou a roupa, o rumo, o prumo
e me pôs a mesa...
é a porrada da beleza!
Eu dei de chorar de uma alegria funda,
quase tristeza.
Acontece às vezes e não avisa.
A coisa estarrece e abre-se um portal.
É uma dobradura do real, uma dimensão dele,
uma mágica à queima-roupa sem truque nenhum.
Porque é real.
Doeu a flor em mim tanto e com tanta força
que eu dei de soluçar!
O esplendor do que eu vi era pancada,
era baque e era bonito demais!
penso, às vezes, que vivo para esse momento
indefinível, sagrado, material, cósmico,
quase molecular.
Posto que é mistério,
descrevê-lo exato perambula ermo
dentro da palavra impronunciável.
Sei que é desta flechada de luz
que nasce o acontecimento poético.
Poesia é quando a iluminação zureta,
bela e furiosa desse espanto
se transforma em palavra!
A florzinha distraída
existindo singela na rua paralelepípeda esta manhã,
doeu profundo como se passasse do ponto.
Como aquele ponto do gozo,
como aquele ápice do prazer
que a gente pensa que vai até morrer!
Como aquele máximo indivisível,
que, de tão bom, é bom de doer,
aquele momento em que a gente pede pára
querendo que e não podendo mais querer,
porque mais do que aquilo
não se agüenta mais,
sabe como é?
Violenta, às vezes, de tão bela, a beleza é!
22.8.07
Gérberas
*
Flores de palavras
Umas poucas e boas palavras saíram em toada. Estão elas ligadas ao azul e verde no corpo cristal do vaso, à madeira da cadeira, da mesa, da cama, na sala, no quarto. Os lençóis e outras fibras estremecem com a vibração delas. Elas impregnaram a sua presença na sala, no quarto, na biblioteca. E aos viventes daqui, pouco a pouco, fazem no ritmo delas também nós dançarmos. Todo o espaço e tempo e os viventes as tais palavras reverberam sem distração, prenunciam festa, retratos, passeios, o sol das manhãs de domingo. Recontam elas, àvidas, da sua primeira e rápida visita à casa, à mesa, à cama, ao abraço. Prenunciam a sua nova chegada. Elas, as palavras, umas poucas, mas boas, em sussurros furtivos, estão agora mesmo em toadas a contar: apaixonadas!
*
Dia e outro,
Amado,
Desfia o tempo.
Distância,
Lembre,
Amor,
Esqueça!
Dia e noite,
Amado,
Desafia o tempo.
Meus delírios,
Sensíveis desatinos,
Aos abraços,
Amado,
Amorteça!
Dia e noite,
Amor,
Fia o tempo.
Miolo negro,
Pétala a pétala,
Floresce gérbera.
Coroa o laranja
O nosso amar-elo.
29.5.07
Tecer Teias
Fibrila o desejo do leitor: asa
Ariadnes em marchas sincopadas, arranjam hordas de letras alinhadas entre margens de sentidos. Invisíveis, visíveis, coagulam as palavras em similaridades e contigüidadesas mais estranhas às letras que se tornam palavras. E avançam, texto e leitor, entre finos rabiscos e abismos de sentidos. As margens invisíveis ordenam traço, letra, espaço... E rumo ao sem fim de léxico, sema, signos, metáforas e topoi. Alfarrábios de civilização, rolos e maços em estantes fechadas, portas para um mundo que existe sob as patas das aranhas gráficas. Surpresas em textos, aventuras em linhas, mistérios em garatujas. São amorosas as aranhas gráficas. Há tanta vida entre as teias delas. E não haverá trégua, acomoda-se o adiantado leitor. Ler!
Arma-se a linguagem: asa de mosca
Pela testa do leitor escorre lenta uma gota e outra de suor. As aranhas correm rápidas e dispersam-se. Correm retas novas linhas, desarranjados caminhos. As marcas e as patas delas esbarram sem sentido nos limites da página. Manchas escorrem grossas, borram-se as letras margem abaixo. Um assopro, um suspiro e mais outro. Sem socorro, as letras estão borradas. Sem palavras! Uma ilha negra brota no centro dos alinhamentos. Manchas e borrões em ilhas de desordem entranhadas nas fibras da seda opaca. Uma e outra gota de suor bastou, fez-se noite entre as letras. Garatujas ébrias e a civilização do texto posta em grossas nuvens de borrões. O movimento de pensar o mundo em letras, não mais se lê, nem palavras, agora é trilha de incertezas. Em meio ao cansaço e o suor desta noite perde-se todo sentido. Sem os fios das letras e sentidos, a memória de Aridne está presa num labirinto sem muros.
O devaneio opaco: asa de mosca na filigrana
Gotas cedem ao calor da lâmpada que pende sobre o papel e o aquece. Acolhidas nas rugas desabrochadas na trama porosa, por hora, marcadas de rastros, de certo as gotas secam. Vapor. Borrão algum deixa de ceder à luminosidade. A luz seduz!
As letras não se cansam de estar no mundo para revelá-lo? Quem saberá? As letras são ilhas de solidão. Ler e ser o mundo dito, narrado ou descrito, restritivo este espaço da página que o aprisiona entre capas. A leitura macula o tempo da língua viva, desbasta as coisas em letras, faz do mundo palavra e espírito. Que se leia o livro! O leitor abandona o vão esforço de jogar qualquer luz-compreensão e dissolver as manchas do texto borrado.
A vertigem dos olhos: asa de mosca na filigrana de teias
Na face borrada, sumidouro das letras, há estranhas linhas sem margem precisa. Manchas de cor acinzentada e negra cedem ao translúcido que surge sob o calor da luz. Abruptas ilhas de marcas d’água desenham-se no papel em vergões e cicatrizes do movimento do suor escorrido. Entrementes o tempo passe num átimo, sob o calor da luz germinam uns finos veios de cristais na página suada. Iridescentes brotam aos olhos as fadigas do pensar induzido pelas palavras. São uns cristais bem toscos, ínfimos nas ilhas de suor ressecado. Umas luzes falhas, umas faltas a ressecar as malha e lascas e gomas deste papel. Sempre haverá o que ler e ver. Retorna o leitor à bancada. Tentativa renovada de sentidos para estes cartões de manchas: singular livro, testes de Rorschach.

A vertigem dos olhos: asa de mosca na filigrana de teias furta-cor
A seguir, adiante! Estranhas figuras parecem dar nova mira ao leitor. São marcas de olhos enegrecidos em sombras a margear e centralizar uns focos nas ilhas. Reluzente imaginação a deste leitor. Olhos fatigados da imprecisa brancura da seda opaca e das letras. Adivinham-se as miríades de formas translúcidas. É possível ler tudo e todos. Um recurso último haverá compreensão. Uns cem números de pequenas luzes aparecem. Rastros da cristalina imaginação. E rebrilham também estas luzes numas falas, numas tentativas. Quantas luzes faz o pensar alheio, não é!? Mostra-se o papel: um mar de insuspeitadas e esboroadas letras. Possibilidade, gravidez de formas cinza e uns poucos cristais.
Asa de mosca na filigrana das teias furta-cor
Quisera eu, neste instante, uma outra idéia pudesse vir em meu socorro. Além de escrever ou de ler, tiraria este leitor da faina de compreender. Gostaria de apenas dizer-lhe para ver. Faria, quiçá, brotar mais que a mera descrição dos laços e riscos disformes dos diamantes lapidados pelo seu suor de cansaços.
Ah, amigo leitor, onde era opalino, se eu pudesse, faria nascer pra você um poema, um verso, um quadro de imagens.
Não viesse eu destro apenas nas limas, tesouras, agulhas, um modesto perseguidor de rastros das aranhas alheias... E mais disciplinado eu fosse, quiçá mais amigo, quem sabe, diria a você de viva voz umas rimas a sovar esta experiência incrível que é ler e dizer.
Umas falas, uns diálogos presentes no mundo, algo para além das páginas. Não fosse isto, tal imagem nascente daquela ilha, das formas luminosas dela, do suor... Eu então tentaria novamente escorregar patas de aranha da garganta em formas afeitas mais à alheia imaginação... Quiçá! Quiçá!... Quem dera quimeras!
Tivesse eu um poema à mão, na memória, então faria disto aqui mais que um ponto de vista. Traria as armadilhas da língua em verbos postos no ar. Seriam saraivadas de estímulos para novas danças de patas tintadas a rebrilhar no espaço de um círculo de amigos. E então recontaríamos nossas histórias. Faríamos nossas fábulas.
Quem sabe, saltaríamos prosas, poemas ou ainda alguns verbos cantados. Realinharíamos as trilhas das fastidiosas aranhas em patas mais bem tintadas apenas para registrar estradas, mapas dos nossos encontros. Grafaríamos umas tantas tramas de desatinos, histórias para ver de novo os amigos, na funda das filigranas de teias, junto à carne, ossos e sangue das palavras-letras de novos e melhores leitores.
28.5.07
INTERVALO

Que raras deusas têm escutado
-Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?
...Quem te disse tão cedo?
Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?
Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?
Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?
Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca
-A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.
23.4.07
As Marionetes e o início do Teatro Imago
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Feitura das Criaturas
foto de Thomas Kaufmann
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