
Photo: Mothman by PanZerkorps
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É isto!
Você me disse que a última carta enviada demorou mais de uma semana para chegar às suas mãos, então eu espero que já estejamos juntos quando receber esta. Os assuntos aqui tratados, em parte, já terão expirado. As cartas não ressoam como quando as escrevemos. Limites da linguagem. O que me interessa é o destinatário e a proveniência desta escritura, mais que a carta em si ou propriamente tratar assuntos.
Tenho vivido um tempo desproporcionalmente veloz. A cidade me proporciona isto em situações variadas. O meu trabalho também demanda voracidades. A lentidão do tempo eu percebo quando ele constitui o espaço intransponível. O tempo é a barreira, o espaço da distância, a nossa separação. O tempo veloz não se distende, mas é marcado pela nossa sempre contingente reunião: um encontro sempre momentâneo. Nos nossos encontros eu sinto o tempo se alongar. Ele se limita, assim, a um tempo de calendário. Já, já, eu chego.
O que eu poderia contar-lhe que você não saiba? Digo (escrevo) o que se tem passado comigo, e serão novas? Nunca as cartas de amor dizem tudo o que delas esperamos. Nem é o que se possa escrever o que se gostaria de ler. Cartas de amor são anúncios de si, motivações do reencontro.
Eu já lhe disse do contínuo diálogo silencioso que estabeleço contigo, no qual reconto o que faz a tessitura dos meus dias. O que me move a escrever, contar do desconexo tempo entre desfazer-me em tramas de horas, fabricar o espaço de aproximação, estrutura essas trilhas e essas pontes nas quais eu me reconheço.
Eu grafo o tempo que nada diz, mas me reconstrói. Então, é este o movimento mais caro e estimulante. São pontes que eu tenho encontrado aqui, estando à espera.
Não me basta escrever só por escrever. Eu lhe escrevo para me escrever. Não é para inscrever-me na pele da memória e durar em você. São outros os meus intentos.
Cartas não são ocasiões para a lembrança da pele dos amantes. É a recriação que eu faço do outro, de um nós e das tramas que teço o que me interessa deveras. Assim me lanço às cegas nesta escritura da ausência. E escrever passa a ser, não estar ou (re)contar, de certa maneira é ser ao lado de quem falta: eu me reinvento e eu lhe invento.
Declaro-me mais uma vez perdido no labirinto de palavras (pás que lavram, ouso em letras!). O discurso mais que tecido por letras, frases, orações, é feito de pausas, afeito e afeto em pausas.
As tramas das minhas intenções e propósitos suplantam qualquer linguagem. Inventar e inverter ou articular fogem. Os caminhos me levam até aí, seu lugar que é um vir a mim. O centro da linguagem, a descrição do tempo e a ausência: um devir.
Tarefas de hoje: Lavrar escrituras, mais ou menos como construir um universo de referências para o inominável, invisível, intocável que eu sinto e sei abaixo da pele. Não são veias. Serão vias!
Eu não estou aqui, vou em direção ao que me faz (ser eu). Encontro-me na falta a cada dia e a cada minuto.
Parece-me que o tempo de distâncias, embora concreto, não tem fim, O tempo também não teve começo. Então, já sem tempo, já, já eu chego aí.
Os meus suspiros depositam a inquietude e a impossibilidade nas esperanças. Um diálogo contínuo, a ordem de tempo e de espaço eu suspiro, nas pausas. Tanto ar quantas são as ausências que sinto em mim, eu inspiro. Olho à rua as ausência, débeis vagamos em olhares rasos e saudades.
Sem dizer ou escutar palavras (jocosas ou não), eu gostaria de sentir no hálito do outro, o silêncio arfar entre as costelas. Porque não, mesmo a pausa e a ausência suspiradas, conseguem transportar para além o querer e o sentir? Para além? Acerto as contas com o que quero, fazendo-me verbo, dizendo-me aqui e ali, como for possível. Por enquanto: já, já!
A sua presença (ausente) acomete e atordoa o meu "estar distante". Tão próximo e cheio de sentidos que fazem fugir quaisquer palavras que possam expressar o meu (nosso) desejo.
As palavras nunca bastam, por que somos feitos de outros e tantos movimentos.
Distraído... Destraído... Realiado... Aliado... Nem o trabalho, nem os acontecimentos e afetos que me assaltam dia e noite. Estou cego ou vejo?
Entre espaços que percebo, há os que me concebem e vãos. Crio palavras tal ervas aqui e ali. Retorno à metáfora e reescrevo. Lembro-me de aparar minhas penas e pesares na forma de letras.
Mais e mais desejo estar aí, no interstício, no subjetivo, naquilo que vejo no espelho. O espaço de ausências plenas que, apesar de presente, está fora de si. E eu não o tenho. Não há um Si ou o Mesmo no vazio: eu-em-mim: Si, si! Os pontos são de referência, tal os espaços refletidos na superfície de vidro e metal que eu espelho.
Alguém disse (foi o Deleuze) que o mais profundo que se pode ir, no outro, é a superfície da pele, nas curvas e reentrâncias dela. Ele não disse, perguntou: quanto a pele pode ser permeável e elástica, quanto ela suporta e quanto ela sustenta?
Das poucas coisas que percebo a melhor é a nossa demora.
Sinto a falta como uma presença e a presença como uma falta que reciprocamente não se preenchem. E, mesmo com estes esforços das minhas lavras, aqui e aí, jamais o tempo será tão veloz quanto agora quando o estendo. Mesmo assim, insisto em continuar e nos escrever para ver se reúno novamente uns estilhaços meus, uns cansaços que se espalham nas entrelinhas, entre uma trilha e outra, nas curvas.
Na forma de palavras, excertos coligidos nessa expressão da falta, encontro trajetórias de devires e passados atualizados, presentes prometidos, futuros ideais.
Entre as palavras que escrevo, o eu encontro nuns cheiros e numas curvas e em outras que estão agora mesmo aqui em emoções. Fosse eu tão só sensação, seria fumaça. Nem lembranças. Entidades, estados e identidades minhas e sobras suas no cheiro que foi o nosso ardor. São sensações do meu gozo de agora: o Mesmo.
Falar, então, será estender a mão mais uma vez sem saber se tocarei. Escrever na velocidade desse tempo que não passa, Exercito minha distensão. Descarno de novo todas as emoções, todas já reveladas nos sentidos compartilhados de uma presença monumental de agora mesmo. Sim, mais o ardor, sinta-me, amor, e muito que já, já, já eu chego aqui.
Bem vindo!
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Temporada Imago Teatro de Animação
Para comemorar o Aniversário de Londrina
E S T R E I A
VORTEX: Folia para Sopro, Cordas y Marionetes
O novo espetáculo da Companhia Imago Teatro de Animação. É um diálogo entre a Alma das Marionetes e o Espírito da Musica, representando o despertar de um canto silencioso para as marionetes.
Nesta obra música e movimento se entrelaçam, na composição da alquimia que faz nascer a individualidade de uma personagem: a marionete que ainda não tem nome.
A música é uma folia, que em sua origem medieval e era esta a denominação das festividades de comunidades agrícolas da Península Ibérica e, depois, no Barroco (1600-1750), transformou-se em gênero musical que, aqui, neste espetáculo, folia significa a reunião deste grupo de artistas na celebração do enternecimento, da sensibilização individual e coletiva. A marionete é uma alegoria do nascimento da individualidade.
O canto silencioso refere-se ao conceito de Platão, que faz vibrar em nós o que é anterior às palavras e pensamentos. Vortex encena a mudança do imaterial em material, a essência humana rica e divina que se humaniza, ganhando a forma do corpo que dança e se expressa no espaço da cena. O cósmico irrompe em cena, ganhando densidade, e por certo expande a personalidade que se expressa na forma geométrica, na dança, na música da marionete que ali nasce.
Vortex ou vórtice é a unidade que faz movimentos circulares, reapresentando as forças e os poderes dos ciclos. É a força intrínseca do movimento, o fluxo dos sentimentos e propriamente o mistério da música. Em Vortex os substratos da alma, que tem como base a inocência sabia e silenciosa, segue a espiral em constante movimento e transformação que faz das marionetes do Imago pura sensibilidade expressos em abraço.
Em cena estão a flauta de Nivea Nasser, as cordas de André Siqueira e as Marionetes de Mauro Rodrigues, animadas por Robson Barbosa e Laura Lopes. A música é "Variações sobre Folies d’ Espagne", de Marain Marais (1656-1728).
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Todos os dias tenho estudado uma parcela das lições que o azul ensina. Fico contente de compartilhar contigo, nesta data, um tanto disto que eu aprendo.
O azul exato é inexistente.
Se está no céu o azul é ilusão. Pouca matéria que não se pode alcançar. É tão só cor, reflexo das águas ou o ar o tal azul celeste. Chega-se às nuvens e até as ultrapassa, o azul não está mais ali. Onde o azul anil será?
O azul é inatingível.
Ele, o azul, está e fica sempre à boa distância, eu pressinto.
Há azul nos mares mais frios, nas calotas e nas costas da terra. É tão perto ou dentro, mesmo assim, não se pode tocar este azul profundo. Onde a parte tangível de mares e dos céus está, nas imensidões azuis? Tão próximas dos olhos, sempre distantes da mão.
O azul é inacessível.
Mas é certo que o azul nos inunda a imaginação. A possibilidade de tocar o azul mais profundo, eu alcançaria, a guardar um pedacinho de matéria azul, mas sequer eu posso e nem fazer presente aos próximos ou aos amados...
O azul tem beleza singular.
Há o azul das geleiras, dos Glaciares. Você também já comprovou, é lindo! E inexistente, e inatingível e inacessível. Deste eu até bebi, e preso no cristal do copo, era água com a inconfundível cor de água, isto é, transparente e límpida, como é também a cor cristais amadurecidos. Centenas e centenas de anos e a água não se tornou azul, apesar da insistência do céu, do mar e também do frio. Este último, dizem, também é azul, logo, inexistente, inatingível, inacessível.
O azul é sempre profundo.
Nós sabemos do azul qual o tom exato dele que nos faz vibrar mais e melhor, certo?
Ele não existe, senão nos nossos olhares que nos enganam e nos protegem a nos presentear com profundidades e transparências e tonalidades as mais variadas de algo que não existe. Não apenas não existe, também é incerto, inexato, inconstante e, claro, impermanente e límpido.
E vemos o azul e a ele creditamos uma boa parcela de confiança e de pequenas alegrias: O dia está azul celeste de leveza... O dia vestiu o manto azul profundo salpicado de luzes e fez-se noite... Ou o azul nos serve de metáfora para o mais além de nós mesmos. Bem possível traduza o que é frágil em nós.
Vemos e vivemos certas parcelas das nossas vidas imersas no azul. E, se vemos ele não está ali, sabemos, e ainda assim vivemos o azul que pulsa debaixo da nossa frágil pele (sabemos o vermelho do sangue, e vemos também azul nobreza... até aqui dentro de mim!)
Sentimentos, pensamentos e emoções são assim, não são? Tal como é o azul! Existem por existirem em algum lugar na gente, mesmo que não vejamos, nem toquemos. Não há um órgão. Nem matérias...
Exercer! Existir! Exercitar-se nos arficífios, articulações... Experiências, experimentos... E (ousar) ser!
A lição que o azul me ensina, estando vazio, ele está pleno.
Um mundo ou mais de alegrias todos os dias dos novos azuis tempos!
As geleiras azuis são Del Fin del Mundo, onde fui buscar um azul para compartilhar contigo!
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Crianças se divertem e adultos se emocionam.
Em Londrina, neste final de semana!
Primeira companhia estável de teatro de marionetes de Londrina.
Em cartaz desde dezembro de 2007.
Mais de 70 apresentações.
Assistido por 10mil espectadores.
www.imagoteatro.com.br
contato
fone: (43) 3344 6125
cel. : (43) 9105 0051
A Temporada Imago 2009 apoia campanha do Hospital do Câncer
As apresentações estão programadas para esta semana, na temporada 2009 do Circuito Imago,
com a peça Vis Motrix: ensaio sobre a alma das marionetes, no Teatro Zaqueu de Melo.
Neste ciclo, a temporada acontece sábado (dia 17, às 20h30) e domingo (dia 18, às 19h30).
A temporada deste ano do Circuito Imago apóia a campanha do Hospital do Câncer, batizada
de "Amigo do ICL". Durante toda a temporada no Zaqueu, o boneco Nando, do Hospital
do Câncer, estará à venda ao público e uma parte da renda da bilheteria será destinada à
instituição.
Segundo o Hospital do Câncer, quase 19,5 mil pacientes de Londrina e de outros 218
municípios foram atendidos, em 2008, pelo Hospital do Câncer de Londrina. Entre
radioterapia e quimioterapia, foram 101.414 aplicações no ano passado. As internações
somaram 6.602. Do total de atendimentos, quase a maioria (94,79%) foram feitos pelo
Sistema Único de Saúde (SUS). Os outros 5,21% foram decorrentes de convênios. Segundo a
assessoria de imprensa, atualmente são 340 crianças em tratamento no Hospital do Câncer.
"Esta parceria entre Imago e o Hospital do Câncer de Londrina nasceu do desejo de animar a Campanha,
de doar a vida que temos criado com os nossos bonecos", explica Mauro Rodrigues, diretor
do Imago Teatro e criador das marionetes do espetáculo. Professor do curso de Artes
Cênicas da Universidade Estadual de Londrina, ensina ainda que esta iniciativa tem o
sentido de devolver um pouco do que esta Temporada tem recebido da população londrinense. "Em um ano e meio de
trabalho, foram 10mil espectadores em nossa plateia".
As marionetes de Vis Motrix também já estiveram em apresentação no Hospital do Câncer, e se apresentaram em eventos com representatividade singular a respeito da produção teatral brasileira, tais como o FIT-Festival Internacional de Teatro de Rio Preto (julho 2009), o Fenatib- Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau (setembro, 2009), o Festebon - Festival de Bonecos de Maringá (agosto, 2009), o Seminário Nacional de Teatro de Animação - Jaraguá do Sul (setembro, 2009) e o FILO - Festival Internacional de Londrina (maio, 2008), al´pem de circular pelas unidades do SESC de Santos, São Carlos, Ribeirão Preto e Campinas.
O público que assistir ao espetáculo, por sua vez, tem a chance efetiva de colaborar com o tratamento das crianças atendidas pelo HCL. Ao adquirir o boneco Nando, por R$ 25,00, o londrinense colabora com o trabalho da instituição.
* PAINEL CRÍTICO FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO
São José do Rio Preto ? 27/07/2009
"Vis Motrix" - Delicado, para todas as idades
Maria Beatriz de Medeiros
Leitora Crítica
Na entrada, solene, um senhor de voz grave e acolhedora, recebe gentilmente espectadores. A
trilha sonora, dos 15 minutos de espera tradicionais de todo teatro, também demonstra
cuidado. Isto deve ser natural, penso, para pessoas que trabalham com bonecos, pequenos
seres animados, frágeis, mas que se revelarão ágeis. Certamente me inspiro, para este
pensamento, no tanto carinho que oferece um pai ao seu filho de colo. A platéia está
repleta de crianças. Mas, realmente, um espetáculo de bonecos, não necessariamente é para
crianças. E este também não é só para crianças. Trata-se de técnica, de técnica apurada a
partir da tradição de marionetes japonesas e de poesia.
O mesmo senhor (Mauro Rodrigues) apresenta um boneco, seu "colega", que depois chama de
filho. O boneco é grande e manipulado por três pessoas. Explica: "Vis Motrix", vontade de
movimento, ou enthusiasmós, conforme também consta no completo site da Cia Imago
(www.imagoteatro.com.br). O espetáculo tem por subtítulo "um ensaio sobre a alma das
marionetes".(...)
A manipulação é eficaz e cria de fato envolvimento com o boneco. Ele dança, salta,
instala cadeirinhas, finge ser desajeitado, instala-se, e uma mesa, ganhando o nosso imaginário.
A habilidade na movimentação do boneco faz crer que a mesa, pequena para o tamanho do boneco, é muito
pesada. Ele se equilibra nas cadeiras que dispôs sobre a mesinha. A gravidade desaparece,
estamos no mundo dos sonhos.(...)
Entra naturalmente a bola de futebol. Mas estamos em um mundo mágico e facilmente ela se
torna bola de vôlei, futevôlei, desobedece. Ahahah! É divertido um mundo sem gravidade e
onde os objetos podem ter vida própria: uma cadeira desobediente, uma bola que não quer
mais jogar.(...)
Muito interessante e instigante é a linha, ou a corda, que entra em cena para que o
boneco nela se equilibra, se desequilibra, se joga ao ar, numa cama elástica. Elemento
visual puro, a maronete se solta e os desenhos descobertos são inusitados. Simples, grande,
diferente.
Após o fim do espetáculo, o Grupo apresenta um sketch. Agora, as luzes são
mais abertas, vê-se um pouco os manipuladores/atores. Mas isto não é incomodo. Ao
contrário, os olhos ficam mais à vontade e a concentração na excelente movimentação do
boneco, que quer ter alma, não nos deixa prestar atenção nos excelentes manipuladores.
Bonecos manipulados por três atores não é nada fácil (...). Indago-me se existe apoio
para a pesquisa em estudo de movimentos via sensores e computadores. Informo-me e a
resposta é "não". Tudo é feito sem tecnologia digital. O melhor da artesania. E isto exige trabalho e a Imago Cia
de Teatro o possui integral.
Para manipular bonecos é preciso ser bom ator, ter disciplina, formação contínua e conhecimento da dramaturgia
Teatro de Animação: a arte de confeccionar e manipular bonecos
13/08/2009
Misture paciência e dedicação. Molde os talentos artísticos manuais e teatrais e treine muito. Essa é a receita básica para trabalhar com o Teatro de Animação ou Teatro de Bonecos.
(...)
A vida dos bonecos
Há 35 anos construindo bonecos, o professor, diretor e dramaturgo Mauro Rodrigues criou em Londrina, há dois anos, Imago de Teatro de Animação. Único trabalho com bonecos da cidade, a Cia já realizou 63 apresentações do Vis Motrix.: ensaio sobre a alma das marionetes
Viajando pelo país e divulgando seu talento pelo mundo, Rodrigues construiu os bonecos em madeira para um videoclip da banda suíça Fusion Square Garden. Depois disso, fez modificações no corpo dos bonecos - para adaptá-los à técnica da manipulação direta com um grupo de atores.
Segundo Rodrigues, a arte de animar bonecos é dar movimento e agilidade humana a um objeto inanimado. "As características do humano transpiram do boneco. Os atores e a sua alma, seu ego atuam em transferência com o objeto, para darem vida", explica o diretor.
Para trabalhar com animação de bonecos são necessários alguns requisitos: "É preciso ser um excelente ator, ter disciplina, formação contínua e conhecimento da dramaturgia para conquistar a harmonia de gestos e expressões", orienta Rodrigues.
A companhia Imago de Teatro de Animação tem cinco atores em cena e já formou mais de 15 outros artistas. Atualmente prepara o segundo espetáculo da Trilogia Vis Motrix, este novo é Vórtex, e tem como mote os bonecos que descobrem a linguagem como sistema de comunicação entre pessoa (marionete) e objetos ou até outras pessoas.
(...)
Imago de Teatro de Animação
Fone: 3344.6125 ou www.imagoteatro.com.br
Fabiane Gaion/ Máxima Comunicação
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PAINEL CRÍTICO
FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO
São José do Rio Preto – 27/07/2009
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"Vis Motrix" - Delicado, para todas as idades
Maria Beatriz de Medeiros
Leitora Crítica
Na entrada, solene, um senhor de voz grave e acolhedora, recebe gentilmente a platéia. A trilha sonora, dos 15 minutos já tradicionais de atraso de todo teatro, também demonstra cuidado. Isto deve ser natural, penso, para pessoas que trabalham com bonecos, pequenos seres animados, frágeis, mas que se revelarão ágeis. Certamente me inspiro, para este pensamento, no tanto carinho que oferece um pai ao seu filho de colo. A platéia está repleta de crianças. Mas, realmente, um espetáculo de bonecos, não necessariamente é para crianças. E este também não é só para crianças. Trata-se de técnica, de técnica apurada a partir da tradição de marionetes japonesas e de poesia.
O mesmo senhor (Mauro Rodrigues) apresenta um boneco, seu "colega", que depois chama de filho. O boneco é grande e manipulado por três pessoas. Explica: "Vis Motrix", vontade de movimento, ou enthusiasmós, conforme o completo site da Cia de teatro (www.imagoteatro.com.br). O espetáculo tem por subtítulo "um ensaio sobre a alma das marionetes"(...)
A manipulação é eficaz e cria de fato envolvimento com o boneco. Ele dança, salta, instala cadeirinhas, finge ser desajeitado, instala cadeirinhas, e uma mesa. A habilidade na movimentação do boneco faz crer que a mesa, pequena para o tamanho do boneco, é muito pesada. Ele se equilibra nas cadeiras que dispôs sobre a mesinha. A gravidade desaparece, estamos no mundo dos sonhos (...)
Entra naturalmente a bola de futebol. Mas estamos em um mundo mágico e facilmente ela se torna bola de vôlei, futevôlei, desobedece. Ahahah! É divertido um mundo sem gravidade e onde os objetos podem ter vida própria: uma cadeira desobediente, uma bola que não quer mais jogar (...)
Muito interessante e instigante é a linha, ou a corda, que entra em cena para que o boneco nela se equilibre, se desequilibre, se jogue como em uma cama elástica. Elemento visual puro, ela se solta e os desenhos descobertos são inusitados. Simples, grande, diferente.
Após o fim do espetáculo, o Grupo apresenta um sketch do próximo. Agora, as luzes são mais abertas, vê-se um pouco os manipuladores/atores. Mas isto não é incomodo. Ao contrário, os olhos ficam mais à vontade e a concentração na excelente movimentação do boneco, que quer ter alma, não nos deixa prestar atenção nos excelentes manipuladores.
Bonecos manipulados por três atores não é nada fácil (...). Indago-me se existe apoio para a pesquisa em estudo de movimentos via sensores e computadores. Informo-me e a resposta é 'não'. Tudo é feito sem tecnologia digital. Isto exige trabalho e a Imago Cia de Teatro a possui.